NO PORTUGAL DAS VAIDADES HÁ MISÉRIA IGNORADA.
NO PORTUGAL DAS VAIDADES
É UM ESCÂNDALO HAVER ALDEIAS SEM ELECTRICIDADE.
Há dias, na TVI, nas “TARDES DA JÚLIA PINHEIRO”, duas senhoras, mãe e filha, relataram as péssimas condições em que viveram, até há pouco tempo, sem frigorífico, sem televisão, sem electricidade, numa escuridão idêntica àquela em que viveram os homens primitivos acrescida da revolta de saberem que a vida dos restantes portugueses não era igual à delas; viviam como se vive nesse mundo civilizado onde até a Comunidade Europeia subsidia a instalação de luz eléctrica na corte dos animais. “ A Senhora D. Júlia” ajudou-lhes a resolver o problema. Aos 89 anos de vida, a mãe pôde carregar no botão e ver tudo diferente. No dia seguinte, entrou pela porta dentro o aparelho de televisão e o frigorífico. E tudo mudou na vida daquela gente da Beira…
Agora, no concelho de Boticas,
no Povoado de "Casas da Serra", são outros os personagens a queixarem-se nas Televisões e nos jornais, entre eles, O Semanário Transmontano do dia 17 de Julho de 2009, que dá voz a uns desgraçados que toda a vida foram marginalizados e que ainda continuam às escuras quando se apregoam as novas energias e vêem na sua frente as grandes eólicas a gerarem e a mandarem a tal electricidade para outras paragens, que dá para abastecer 24 mil habitantes.
Dizem no jornal: “ Foi tudo embora”. «Ao contrário dos sobrinhos, os tios dos irmãos Ferreira, os últimos dois habitantes a abandonar o lugar, não se habituaram à escuridão. Com o dinheiro que ganhou em França, o casal ainda reconstruiu, em chapa uma habitação em Casas da Serra. Mas acabou por abandonar o local, mudando-se para uma aldeia mais próxima da sede do concelho, Quintas. «Eles vinham habituados a ter todas as condições e estranharam muito, sobretudo, não poderem ter frigorífico», recorda José que ainda se lembra quando no lugar moravam “umas vinte pessoas.» Foi tudo embora, conclui.»
« Aos domingos vem cá muita gente e dizem que isto é muito bonito. “ Mas é só para passear…” “Para viver é um inferno”.
- Com a «casa roubada, trancas à porta». Quando lá chegar a electricidade, com os residentes a desaparecerem, e muitos deles a serem encaixotados nos cemitérios, virão uns novos colonos de fato, gravata e camisas de seda, recuperarem esta aldeia abandonada e transformá-la em aldeia turística, como tem acontecido para as bandas da Serra da Estrela.
E é este Portugal do Barroso, do Guerreiro que está em lugar de honra no Mosteiro dos Jerónimos, que faz parte do terceiro mundo mais abandonado, para aonde O Governo Português manda milhões de euros e soldados para que esses países tenham progresso; e estes desgraçados, que nasceram e vivem em Portugal, que se contentem com os lobos a comerem-lhes os animais, com as ventanias a fustigarem-lhes os corpos e a neve e o gelo a prendê-los dentro dos casebres que, pouco a pouco, vão desaparecendo do mapa.
Será que não haverá um pouco de vergonha projectarem-se obras como o “Comboio de Alta Velocidade (T G V)” e deixar-se estes cidadãos entregues à sua fraca sorte?
Se quiser visitar esta pobreza, pode seguir de Braga até à Barragem da Venda Nova, concelho de Montalegre, deixe a estrada n.º 103 e vire em direcção a Boticas. Siga a estrada n.º 111 e, a poucos quilómetros já vê o parque das eólicas.Os acessos estão asfaltados. Encontrará paisagens deslumbrantes e gente a dizer mal da sua vida. E, depois, passe pelas Alturas do Barroso, desça até Boticas, e visite SAPIÃOS, a melhor aldeia do concelho. Estes contrastes ajudam-nos a equilibrar o espírito crítico e a reflectir melhor na origem dos problemas.
OS MUNICÍPIOS DO ALTO TÂMEGA
reclamam e têm razão.
Após uma reunião em Chaves, os Presidentes dos Municípios exigem do Governo obras decorrentes das verbas que o Estado vai receber por conta da construção das quatro barragens no Rio Tâmega.
«Constituindo uma receita directa do Estado, os 303 milhões de euros pagos pela IBERDROLA, depois de ter vencido o concurso para a concessão do Complexo de Barragens do Alto Tâmega, é da mais elementar justiça que parte dessa receita se destine às aldeias com problemas graves como as do Barroso e outras, dispersas por montes e vales, pondo de lado a prioridade, se não a exclusividade para os jardins e rotundas das sedes dos concelhos ou dos confortos desmedidos entre Lisboa, Porto ou o resto do Mundo. Se fizerem um ligeiro estudo, verão que não são os militares dessas cidades que se disponibilizam para defender os interesses de Portugal. Às vezes ainda os classificam como os burros das aldeias… que foram criados à luz da candeia.
Coordenação de Artur Monteiro do Couto
«SE TENS INVEJA DO MEU VIVER
TRABALHA
M A L A N D R O.»