
Túmulo moderno do “ Lendário Vinho dos Mortos”
de Boticas.
Segundo a História de Portugal em Datas, editada pelo Círculo de Leitores, a segunda invasão francesa, comandada pelo general Soult, que em Março de 1809 entrou em Portugal, venceu as serranias de Trás-os-Montes e Alto Douro e atingiu o Porto, onde se manteve durante um mês, tendo, os franceses, sido obrigados a retirar-se de Portugal no mês de Maio do mesmo ano, contando Portugal com o apoio dos ingleses.
Diz a lenda, ou alguém por ela, que os soldados franceses poderiam beber o vinho dos lavradores botiquenses ao passarem nesta localidade. Alguns lavradores, com o receio de terem de beber apenas a água da montanha, enterraram-no e quando os invasores passaram em direcção ao Porto e o foram desenterrar, aperceberam-se que o paladar era diferente e, em anos posteriores, repetiu-se a experiência. E surtiu efeito. Numa época em que ainda não havia frigoríficos, o vinho enterrado dentro da adega tinha de ser forçosamente mais saboroso do que o mais próximo da fogueira dos “nove meses de Inverno e três de Inferno” – como alguém classificou o clima da região de Barroso.
Foi assim, com estes pressupostos, que teve origem a consagração de «O Vinho dos Mortos.» Já bebi dele por diversas vezes e gostei. No restaurante “ Santa Cruz “, na década 1960/70, tendo fechado porque alguns queriam comer e beber à custa dos donos, obrigá-los a pagar pesados impostos, por razões que o saudoso Armindo Cunha me referiu, muitas vezes, em forma de desabafo, e foi um factor para fechá-lo para nunca mais reabrir. Deixamos um voto de louvor para os proprietários e manifestamos o nosso pesar pela perda de um património gastronómico, sem recuperação possível. O paladar apurado, da D.ZULMIRA Gonçalves da Cruz e da irmã Lurdes é intransmissível. Ficam apenas as receitas no papel.
Estamos na época das vindimas. Aproxima-se o “São Martinho para ir à adega e provar o vinho»; e com as castanhas assadas nos tradicionais magustos, “ Os Mortos de Boticas” vão fazer cantar os vivos.
É louvável a colaboração entre o produtor Armindo Sousa Pereira, a Câmara Municipal e a Cooperativa Agrícola para preservarem um verdadeiro “ex-libris” de Boticas.
A quem nos estiver a ler, deixamos um aviso: não se zanguem se chegarem à Vila dos Mortos e só encontrarem vivos.
Artur Monteiro do Couto