
O adro de uma aldeia transmontana (SAPIÃOS-Boticas) com os sinos no campanário - séc.XVIII.
Numa época de meios de comunicação altamente sofisticados: satélites, televisões, rádios, telefones, telemóveis, etc., os velhos SINOS instalados nas torres (campanários) das igrejas continuam a exercer as funções de anunciar, às populações, notícias de alegrias e tristezas.
Anunciam alegrias quando repicam, (o sineiro bate directa e repetidamente com o badalo contra o sino), nos baptizados, na véspera de natal, ressurreição de Jesus Cristo, na Páscoa; e quando o sineiro o acciona com a cremalheira, a que o povo designa por o sino a dobrar, nos dias festivos, a anunciar que a banda musical chegou à aldeia e vai começar a arruada (banda percorrendo as ruas a tocar), antes das cerimónias religiosas, aos domingos, e dias da semana.
O sineiro, homem que sabe tocar o sino, consegue variar os sons conforme os actos que quer anunciar. Para anunciar a morte de um homem, toca três vezes seguidas, com um intervalo de 1 minuto; para anunciar a morte de uma mulher, toca duas vezes; o povo diz, se dá duas ou três carreiras, que os sinos estão a dobrar a finados. Na morte dos “anjinhos”,(crianças de tenra idade), repica o sino em sinal de que um anjo partiu para o céu.
O toque das Ave-Marias, Trindades e das Almas, prática que se usava quase em todo o país está muito ligado à crença religiosa e também a algumas superstições. Uma das crenças mais arreigadas no povo transmontano era o toque para afugentar as trovoadas.
Transcrevemos do poema “ Toque das Ave Marias” da Antologia de Poetas de Sempre coordenada por Barroso da Fonte:
«Os melros cantam
Canta a cotovia
Chegam os pastores
Quando acaba o dia
Cuidados tamanhos
Com os seus rebanhos.
Mal ouvem o sino
De chapéu na mão
Param e rezam.
Ave Maria
O sino também tinha a função de convocar o Conselho da Aldeia, (os ajuntamentos), presididos pelo Presidente da Junta da Freguesia para resolver problemas colectivos; início dos trabalhos nos caminhos, arranjar os regos da água de rega, a arrebate, em casos de anomalias na vida comunitária, quando há incêndios, etc..
Os relógios modernos, de torre ou campanário, fazem-
-se ouvir por toda a aldeia, e pelos campos agrícolas, utilizando, ainda, os sinos.
Muitas destas tradições estão a perder-se à medida que as alterações sociais se vão operando. Mas vão ficar as saudades de todos os que vivemos esses tempos de paz e de solidariedade convocada pelos sinos quando a casa do vizinho estava a arder e ainda se desconhecia a palavra
“ Bombeiros “ e carros de incêndios; ou se suspendiam os trabalhos nos campos, quando os sinos anunciavam os funerais dos vizinhos, para os acompanhar à última morada.
Fiquemos nós, agora, com as recordações agradáveis declamadas pelo Grande artista do saber dizer, “ João Vllaret “ que rende a sua homenagem à voz dos sinos, ao teatro vivo das procissões, à decoração das ruas e à participação respeitosa dos cidadãos nas demonstrações religiosas das comunidades, recitando o poema de António Lopes Ribeiro, conhecido como homem de cinema:
«Tocam os sinos na torre da igreja,
Há rosmaninho e alecrim pelo chão,
Na nossa aldeia,
Que Deus a proteja,
Vai passando a procissão.»
Ler o poema todo na internet.
Artur Monteiro do Couto