«Cada Cada Terra com seu Uso, cada Roca com seu fuso» Assim dz o Povo.
OS usos e costumes no Barroso ainda hoje são muito vividos. Este de fazer arcos de triunfo para quem durante o namoro venceu as tentações da carne é que deixa muito a duvidar. Ficou o costume do arco mas foi-se o da virgindade.
Aqui fica um documento para a história contemporânea.
EVOLUÇÃO DO HOMEM “SAPIENS” PARA HOMO “RAPIENS”
Pelos campos verdejantes, semeados de milho ou plantados de batatas, roda o carro secular de tracção animal puxado, em tempos idos pelo gado bovino, e, agora, em tempo de decadência agrícola pelo burro, também em extinção.
Os amantes da raça asinina, de Miranda do Douro, movimentam-se no sentido de preservar a espécie a quem o mundo rural muito deve pelos óptimos serviços prestados à humanidade, antes e depois das energias petrolíferas saídas do ventre da terra.
Hoje, mede-se a potência dos motores pelo número dos cavalos que seriam necessários para corresponder à potência energética deles. Mas com a escassez e carestia actual do petróleo, talvez tenha de se substituir a potência dos tradicionais cavalos pela dos burros que ainda existem, e são estimados em terras transmontanas.
Reparem na felicidade das crianças que se passeiam nos carros puxados pelos burros. Possivelmente, a mesma que os turistas ricos sentem a subir a Serra de Sintra puxados pelos elegantes cavalos de quatro patas.
Salvem-se os burros de quatro patas e acabe-se, apenas, com os ditos burros de duas.
Artur Monteiro do Couto
Consulte: www.flickr.com/ fotos artur.couto
«Senhores, saiam do carro e venham beber um copo.»
Assim disse o João Albino, de três anos e meio, do patamar da sua casa, em construção, na aldeia transmontana de Sapiãos, concelho de Boticas.
Saímos do carro para conversar com o herói da montanha, criança bem falante, rodeada de cães de caça para apanharem os coelhos do monte e os ladrões que tentem raptá-lo a ele ou roubar os parcos haveres dos seus pais, ainda muito jovens.
Os pobres ensinam, de pequeninos, os seus filhos a serem generosos: « Senhores, entrem e venham beber um copo.» É o testemunho dessa aprendizagem com os familiares e amigos. O João Albino vai ter uma casa muito bonita, como todas as que a rodeiam no sopé da Serra do Leiranco. E pela generosidade que bebeu com o leite materno pode vir a ser um grande cidadão do mundo. Toda a gente vai amá-lo e gostar de conviver com ele.
Mais um testemunho vivo do «Entre quem é - e que se repete com frequência em Trás-os-Montes. Os pobres serranos, são assim. Os burgueses das cidades do Sul fecham as portas na cara das pessoas.
Artur Monteiro do Couto
Apontamentos da vida rural.
1.
Quando um homem não trabalha, por ser preguiçoso ou abastado, dizem-lhe que leva vida de cão, considerando-a muito boa... Mas eu, que sou cão, não concordo nada com isso.
A minha vida é boa quando trabalho. No tempo da caça percorro montes e vales de focinho no ar entre as flores das urzes e carquejas à procura de perdizes coelhos ou lebres; e sempre que encontro alguns exemplares e alerto o meu patrão para preparar o tiro, se ele acerta no alvo, vem ao meu encontro sorridente e feliz manifestando-me provas de carinho que ele nunca dispensou à mulher e aos filhos. E eu, entusiasmado, arranco cá de dentro todas as energias e continuo a minha faina de prazer, alegre e vaidoso pelos bons serviços prestados aos caçadores., lembrando-me, sobretudo, do meu patrão e amigo João Albino, de três anos de idade com quem troco abraços e beijinhos no defeso, nas horas de melancolia, preso pela corrente para não vaguear pelos montes e guardar a patroa.
O patrão confia-me a guarda da casa,pessoas e bens. E pode confiar. Quando algum estranho se aproxima, levanto as patas da frente, corro na direcção dele e se se aproxima, ferro-
-lhe os dentes e ponho-o a viajar a toda a pressa, na ambulância dos Bombeiros de Boticas para o hospital de Chaves.
- Não me falta comida nem carinho, mas a minha liberdade está condicionada e restringida à época de caça. Resta-me a esperança de que o meu menino, quando crescer, me liberte para sempre.
Artur Monteiro do Couto