Matança em Boticas - Foto de Rogério C.Monteiro
O CICLO DOURADO DO PORCO – SUÍNO – RECO – e senhor de outros epítetos, começou com o frio das geadas em terras transmontanas que veio, associado a outras formas de cura, introduzir nas suas carnes características ímpares.
Das aldeias de Barroso (concelhos de Montalegre e Boticas), passando pelas dos concelhos de Chaves, Vila Pouca de Aguiar, Valpaços, até aos confins de Vinhais, Parque de Montesinho e Terras de Miranda, as festas em honra do “Rei Cevado” com batatas, castanhas, hortaliças, cereais, farelos, farinhas e mimos das patroas, tudo gira à volta das honrarias devidas aos mortos que vão ser mensageiros da riqueza gastronómica proporcionada pelos sabores provenientes de corpos vestidos de porcaria enquanto vivos e de brancura depois de mortos e que em boas mesas vão ser fontes de alegria pelos sabores e perfumes que palpitam dos salpicões, das alheiras, das chouriças, dos presuntos e dos cozidos à barrosã ou dos cozidos à portuguesa.
A vida é assim mesmo: a tristeza de uns redunda na alegria de outros.
Os gritos da despedida vão ouvir-se pelas quebradas dos montes. Mas isso vai ser tempo de pouca “dura” … Outros vão recebê-los em festa até ao tempo da “Quaresma”, mas os que têm “nota” não vão esquecer os reis da gastronomia ibérica ao longo de todo o ano, quer nos restaurantes mais humildes, quer nos das “estrelas Michelin”.
Todos fazemos vida de ricos quando saboreamos os “reis” alimentados e acarinhados durante meses por humildes camponeses.
«Do porco, nada se perde; tudo se transforma em manjar dos deuses»: excepto os dos muçulmanos… .
Oxalá que os tratadores dos porcos em Trás-os-Montes venham, um dia, a ser tratados pelos grandes de Portugal com a mesma afeição com que eles tratam os reis porcos, vitelos, galos e outras aves e animais que depois de mortos continuarão a prestigiar Portugal por esse mundo fora.
Artur Monteiro do Couto
CENTRO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL DA SANTA CASA DA MISERICÓRDIA
No jornal Correio da Manhã de 2012-01-04 na página 5 li:
« A maior parte dos ricos de Portugal não se mostraram receptivos ao apelo lançado pelo multimilionário Warren Buffet para que contribuíssem mais para combater a crise. Américo Amorim, considerado pela Revista Forbes o mais rico de Portugal, respondeu não ser rico, mas sim trabalhador.»
Esta resposta ajuda a interpretar melhor a citação do Evangelho onde Jesus Cristo teria dito que «é mais fácil a um camelo passar pelo fundo (cu) de uma agulha do que a muitos ricos entrarem no reino dos céus».
De facto, quando vemos mais de um milhão de portugueses a viver abaixo do limiar da pobreza (360 euros); alguns milhares a dormir em vãos de escada, é de estranhar e lamentável ouvir respostas como esta; e não menos lastimável, todos os dias ouvirmos dizer que há fuga de capitais para o estrangeiro para não pagar os elevados impostos que beneficiariam os pobres e, infelizmente, também alguns malandros que não querem trabalhar tanto como alguns ricos. É triste, esta confusão no reino de Portugal… onde se justifica uma intervenção como a de 1498, data em que surgiram as
“Misericórdias” por iniciativa da rainha D. Leonor – viúva do Rei D. João II.
- Antes de as Misericórdias nascerem, vieram os albergues, as hospedarias, as obras de libertação dos cativos, as mercearias(para atenderem as senhoras de condição social decaída). Actualmente, como referimos nas últimas considerações de 2011, publicadas neste blog tem aumentado a solidariedade entre as camadas mais desfavorecidas e o apoio da Segurança Social, na medida do possível. «Ninguém dá o que não tem»; e os que têm milhões e podiam colaborar mais, trocam os portugueses pelos estrangeiros.
Em concelhos pobres como aquele onde eu nasci, o maior suporte de solidariedade é exactamente a Santa Casa da Misericórdia de Boticas. Apoia Seniores,Deficientes de todas as idades, em instalações próprias, saudáveis; e fornece assistência ao domicílio. A Câmara Municipal tem sido o maior sustentáculo desta grande Instituição desde que foi fundada. Um exemplo a seguir por outras. Pelo que temos visto e ouvido, neste concelho, embora pobre e escondido entre as montanhas do Alto Tâmega, ninguém passa fome, como acontece nas grandes cidades onde o fogo de artifício tem sido rei.
Artur Monteiro do Couto