EMIGRANTES CULTOS, a trabalhar nos mais variados países,
ontem, no programa Prós & Contras da RTP, deram testemunhos que todos os Portugueses deviam ouvir e guardar com orgulho. Portugal não é um País de mentecaptos nem de preguiçosos. Há de tudo como nos outros. Gente culta, trabalhadora, optimista e com alguns semeadores de desgraças e pessimismo, incluindo determinados Meios de Comunicação Social, que confundem governos que não lhes facilitam a vida com um País que os estrangeiros elogiam e amam, mais do que alguns arautos da desgraça. Alguns destes, podem sair à vontade para bem longe que ninguém fica a chorar por eles.
Voltemos às festas. As Televisões têm semeado alegria, cultura popular e erudita por todo o mundo; sobretudo aos sábados e domingos. Mesmo debaixo de chuvadas, neves e ventanias, artistas credenciados e outros em formação, alegram o Povo, inspiram-lhe esperança em dias melhores e todos, ou cantando, dançando; entre saberes e sabores regionais dá gosto participar na festa total.
Na festa do fumeiro de Montalegre, região encaixada na Galiza, o Ecomuseu de Barroso foi uma das vedetas a associar-se às vedetas vivas que foram desfilando pelo palco principal durante meia dúzia de horas. Até o capelão dos bruxos, o célebre padre Lourenço Fontes de Vilar de Perdizes, marcou presença com os seus remédios tradicionais que durante séculos iam dando saúde e esperança aos doentes.
As ervas mais atraentes foram as que se opõem aos maus olhados…
O jornalista Nuno Eiró, acreditou na virtude destas ervas e empunhando-as, quando as jovens e atraentes vedetas subiram para dar o espectáculo com as suas elegantes e atraentes pernas e alguns olhos pareciam querer engoli-las, o Nuno passava-lhas em frente para afugentar os maus olhados… e entre a chuva, o vento e a neve espalharam alegria a rodos… E lá diz a Marcha: “« Ai não há gente tão alegre e prazenteira, como esta cá da fronteira do Norte de Portugal…»
Mas enquanto os “simples e solidários cantam e dançam» os tais que são combatidos com o chá do mau olhado…, gritam nas Avenidas de Lisboa e de outras cidades. A estes, os camponeses repetem-lhes a “sua canção:”
«Se tu me chamas amigo, prova-me lá que o és, vem para o campo comigo na terra sujar os pés…»
Já agora deixamos o registo de uma “canção popular” muito melodiosa dedicada a um «Consertinista», conhecido como o Tocador de Travassos. (Lucindo»
O Tocador de Travassos, Ai,
Enganou uma menina;
Trazia o retrato dela, Ó Ai,
Nas costas da “consertina”.
Nas costas da consertina, Ai,
Nas costas do violão;
- Eu ia casar com ela,
Mas a mãe dela, ó que aflição!
Eu enganar, enganei-a, Ai!
Mas ela bem no sabia:
Eu ia dormir com ela,
Porque a mãe dela mo consentia!
Coordenação de
Artur Monteiro do Couto
«Avisado por um amigo de que havia hoje cá na terra uma chega de toiros,
meti-me a caminho debaixo dum temporal desfeito, e tanto teimei com a chuva, o vento e o granizo, que consegui chegar a horas de assistir ao combate. E valeu a pena. Se há em Portugal meia dúzia de espectáculos que merecem ser vistos, este é um deles. Primeiro, as bichezas, depois de nove voltas propiciatórias à capela do orago e da sanção da bruxa, a sair dos respectivos lugarejos, rodeados pela juventude dos dois sexos, enquanto o sino toca a Senhor fora e o mulherio idoso reza implorativamente aos pés do Santíssimo; a seguir, a chegada dos cortejos ao Toural da vila, as cerimónias preliminares do encontro – vistoria rigorosa dos animais (não tragam eles pontas de aço incrustadas nos galhos), a escolha do piso, dar o que pode, no esforço hercúleo de não perder um palmo de terreno, ou ganhá-lo
apenas cedido. Turra que dura eternidades de emoção, e só termina quando uma das bisarmas fraqueja, recua, e acaba por fugir.
Não é, contudo, a luta gigantesca, apesar de empolgante, o que mais diz ao espectador forasteiro. É o halo humano que a envolve, os milénios de ancestralidade que ela faz vir à tona da assistência. Símbolo de virilidade e fecundidade, o boi é na região o alfa e o ómega do quotidiano. Cada povoado revê-se nele como num deus. Vitorioso, cobrem-no de flores; derrotado, abatem-no impiedosamente. Quando há minutos a turra acabou, depois de a viver numa tensão de que a palidez de um padre a meu lado era a síntese, toda a falange que torcia pelo vencido parecia capada.
(Miguel Torga in “Diário XI”, 2ª edição, páginas 68/69)
Recolha dos doutores Barroso da Fonte e Laureano Gonçalves
Artur Monteiro do Couto
MUSIC TRADITIONAL PORTUGUESE
(Fácil e bonita)
O VELHO ATREVIDO NO TEMPO EM QUE NÃO HAVIA "VIAGRA"
OLHA O VELHO, OLHA O VELHO
OLHA O VELHO ATREVIDO:
DIZER-ME NA MINHA CARA,
QUE QUERIA CASAR COMIGO!
SE QUISER CASAR COMIGO,
HÁ-DE SER NA CONDIÇÃO:
EU DORMIR EM CAMA FOFA
E O VELHO DORMIR NO CHÃO.
LEVANTEI-ME MANHÃ CEDO,
LEVANTEI-ME A COZINHAR:
ENCONTREI O VELHO MORTO,
NAS PEDRINHAS DO MEU LAR.
SENHOR MESTRE SAPATEIRO,
CHAME PELO SEU VIZINHO;
ELE QUE VÁ TOCAR OS SINOS,
JÁ MORREU O MEU VELHINHO!
FAÇAM-LHE A COVA FUNDA,
P`RA QUE NÃO POSSA SAIR;
QU`ELE ERA BEM AMIGUINHO,
DAS CRIADAS DE SERVIR …
QU`ELE ERA BEM AMIGUINHO,
DAS CRIADAS DE SERVIR …
(Era transmontano de raça...)
MUSIC TRADITIONAL PORTUGUESE
Vamos todos cantar música tradicional portuguesa
para combater a tão famosa crise do mundo ocidental.
Tente conquistar uma “ Bonita Laurinda”,
utilizando esta canção popular:
Refrão: Adeus ó Laurinda,
Ó Laurinda, adeus, adeus;
Adeus ó Laurinda,
Os teus olhos já são meus.
Os teus olhos de chorar,
Já nenhuma graça têm;
Já os tenho repreendido…
Que não chorem por ninguém!
Refrão
Adeus ó Laurinda,
… … …
Os teus olhos já são meus,
Ao teu pai te vou pedir;
Se ele não te quiser dar
Contigo quero fugir!
Os teus olhos cor do céu,
Ficam-te bem nesse rosto;
Se eles não forem meus,
Terei um grande desgosto.
Refrão
Adeus ó Laurinda…
… … …
Os teus olhos são tão lindos,
A eles eu vou querer;
Se tu não casares comigo,
Sem ti não posso viver…
Refrão: Adeus ó Laurinda,
Ó Laurinda adeus, adeus;
Adeus ó Laurinda,
Os teus olhos já são meus.
(Transmontanos pelo Mundo a cantar)
Agora e sempre.
Era Verão. A água corria serena junto à Praia de Vidago,
a caminho do rio Douro que a iria projectar no Oceano Atlântico, banheiro natural da cidade do Porto.
Na margem esquerda habitava um jovem casal vindo das serras pobres, duras, incultas e frias do Barroso que encontrou um ambiente paradisíaco, povoado por vinhedos e pomares de cerejeiras, macieiras, pereiras, oliveiras e pinheiros mansos. Tudo se dava naquela quinta idílica da Ribeira, onde o sumo de Baco facilmente atingia os 14 (catorze) graus, tanto o branco como o tinto.
Há umas dezenas de anos, numa manhã agradável, o imprevisível aconteceu: uma jovem e elegante Senhora, geradora do dom da vida, tinha um tesouro no seu ventre. Quando decidiu entrar no barco, na companhia do seu amor de sempre, para o acompanhar até ao moinho situado na margem direita, a poucos metros de distância do seu doce lar, eis que o fruto de um grande amor recíproco surgiu dentro do barco como um novo passageiro masculino, soltando a saudação habitual de quem penetra num novo mundo. Os Pais, entre a alegria e a preocupação da surpresa serenaram com um sorriso nos lábios e um crescendo de amor no coração. Calmamente, o pai segurou-o pelos pés e mergulhou-o nas águas cristalinas e abençoadas do rio Tâmega, transportador de beleza e de esperança. Quando o retirou já lavado, colocou-o nos braços maternais e exclamou: o nosso menino é muito lindo; bendito seja Deus por nos ter dado esta prenda.
O moinho ficou para trás. De regresso a casa, dentro das toscas tábuas de madeira que faziam lembrar as que partiram do Tejo à procura de novos mundos, os progenitores vinham cantando uma canção de amor: o nosso Menino vai dar-nos muitas alegrias. Vamos continuar a trabalhar para o fazer feliz. E o bebé foi crescendo. Todos os centímetros eram medidos pela fita do amor. A beleza dos seus olhos e os sinais de conforto daquele dom de Deus semeavam felicidade no casal Barrosão. O Menino cresceu entre os aromas perfumados das flores que adornavam o ambiente campestre. E esse aroma espalhou-o em casa, nas escolas onde estudou, nos lugares onde trabalhou, todos bem diferentes e longos; desde os mais humildes até à grandeza da Cidade capital do país. E, como se lê no DICIONÁRIO dos MAIS ILUSTRES TRANSMONTANOS e ALTO DURIENSES, coordenado pelo Dr. Barroso da Fonte, «Aqui, em Lisboa, atingiu o topo da carreira, com muitos e bons anos de competente serviço e dedicação à causa pública que serviu exemplarmente.»
Abençoados os seios que o amamentaram e as mãos calejadas que o iniciaram num percurso de sucesso.
Orgulhamo-nos de O ter como amigo.
Artur Monteiro do Couto