
Presuntos em restaurantes de luxo
Temos notícias frescas sobre o contentamento dos barrosões de Boticas e Montalegre pelo sucesso das “feiras do fumeiro”, há dias realizadas, nas sedes dos respectivos concelhos.
Sobre a de Boticas, o Presidente da Câmara Municipal, Eng.º Fernando Campos adiantou: «tal foi a procura e o volume das vendas que o negócio rendeu cerca de 350 mil euros» 70.mil contos.
Em Montalegre, os números são mais elevados: «Pela apreciação que fizemos junto dos produtores, ultrapassámos o milhão de euros (200 mil contos), valor que estava definido como meta ambiciosa», disse o presidente da Câmara, Dr. Fernando Rodrigues. (Lembramos que o concelho de Montalegre tem mais do dobro de área do que o de Boticas.)
Pela televisão, rádios e jornais, temos acompanhado o bom trabalho e esforço das autarquias na defesa dos interesses dos seus munícipes e, por isso, associamo-nos ao contentamento deles e ao êxito das suas feiras, incluindo a Sabores e Saberes de CHAVES.
Então, como justificar o título «os pobres contentam-se com pouco?»
- E quem contabiliza os custos das despesas com os porcos e as horas de trabalho de milhares de pessoas a tratar dos mesmos?
-É que estes milhões não foram dados a quem não trabalha, como tem vindo a acontecer nos grandes centros urbanos a quem nunca soube o que era trabalhar a sério, como se trabalha no Barroso nas aldeias do concelho de Chaves ou em Vinhais, onde o fumeiro é bom, graças a factores diversos, entre eles, o incómodo de tratar dos porcos no meio da porcaria «excrementos dos mesmos». Não fiquem a pensar os senhores que vão comer os presuntos, os salpicões e as chouriças, nos restaurantes de luxo das grandes cidades, que estão a ser explorados pelos transmontanos pobres que cuidaram dos animais e eles estão a comer, graças a muitos sacrifícios desses camponeses humildes. Portanto, os anunciados milhões, contas feitas à maneira do poder reivindicativo dos sectores industriais, não passam de uns magros cêntimos. As grandes margens de lucro, isso sim, talvez vão parar a outras bolsas.
Não se pode criar a ideia de que os desgraçados que mourejam dia e noite são abastados e não precisam dos apoios do Estado como têm vindo a reivindicar outras regiões do País, bem mais ricas e protegidas.
É que os transmontanos são os parentes pobres de Portugal.
Que o digam os doentes que aguardam horas a fio às portas do Hospital de Chaves e dos Centros de Saúde.
Artur Monteiro do Couto