aldeia portuguesa pelo mundo repartida Foto de Rogériocmonteiro
Nascida há muitas centenas de anos,
com berço instalado sobre o prolongamento das rochas altaneiras da Serra do Leiranco, com 1.134 metros de altitude, junto às águas cantantes do Ribeiro do Vale e um jardim de abundantes espécies erbáceas e arbóreas à sua volta, foi crescendo à medida da lentidão dos tempos e da fecundação da espécie humana. O mel e as plantas virtuosas ajudaram à conservação dos viventes, fustigados por violentas intempéries durante os nove meses de Inverno e três de inferno até ao aparecimento da medicina moderna.
Consolidada a espécie, alimentada, sobretudo, pelo leite das cabras e das vacas; pelas couves, batatas, castanhas, pão centeio, carne de porco e pequenos suplementos caseiros, sopraram ventos novos de outras paragens descobertas pelos navegadores e viandantes a pé descalço.
No século XVIII, cheirou a ouro do Brasil e constou que bastava “abanar a árvore das patacas” para regressar rico. A atracção surgiu fortíssima e imparável para alguns. E partiram de saco às costas com umas vestimentas artesanais, feitas nos teares que hoje são monumentos culturais, de gente serrana pobre, entre elas, umas ceroulas de atilhos feitas de linho, carapins de lã de ovelha tricotados pela avó ou pela mãe, aos serões, uns socos tapados nos pés e uma capa de borel às costas.
O jerico, também conhecido por burro, personagem patrono dos burros de duas patas, deu-lhes uma boleia em direcção ao barco que os iria colocar na outra banda do Atlântico.
A dor dos que os viram partir está bem expressa na observação que um emigrante de sucesso, (dono de sete empresas, algumas delas, fábricas que vendem na imensidão do Brasil) :
«Tio, eu quero estudar; … para carregar caixotes às costas e cavar nos jardins, não deixava meu pai chorando, escondido no palheiro por não ter coragem de me ver partir.» Estas palavras traduzem uma violência extrema, mas foram-me repetidas pelo próprio, quando já doutor me contou a sua história para uma entrevista a publicar em «A VOZ DE CHAVES».
E os Emigrantes, uns mais cultos, outros mais endinheirados,
todos, muito trabalhadores e poupados, repartiram a minha aldeia, (Sapiãos), pelos quatro cantos do Mundo e, com o apoio deles, foram construídos os monumentos mais importantes a partir do século XVIII, até aos nossos dias.
Durante o mês de Agosto, parece que estamos a viver dentro de uma Universidade Poliglota, num encontro alegre e rejuvenescido, interligados pelo sangue vivo que foi passando de geração em geração.
Artur Monteiro do Couto
Comentário ao texto : “ A minha aldeia pelo mundo repartida” pelo Dr. João Celorico do blog :
http://aldeiadaminhavida.blogspot.com
Olá, amigo Artur!
Bendita a terra que os seus não esquecem, mesmo espalhados pelas sete partidas do Mundo!
De muitas outras serras e vales,
e para terras bem distantes,
foram para esquecer seus males
muitos e muitos emigrantes.
Aqueles, que ninguém cala,
mostram felicidade e riqueza,
dos outros, ninguém fala,
ignorando-lhes a pobreza.
Mesmo assim, é bom de ver
e ler-lhes o pensamento,
emigrar não é esquecer
a sua terra um só momento.
E, ao partirem, sem alegria,
por outros por cá deixarem,
esperam que chegue o dia
de à sua terra regressarem.
E é vê-los então renascer
recebendo da família o calor.
Na terra, que os viu nascer,
a sua vida tem mais valor.
Destes “heróis”, no fundo,
o que nos fica, afinal?
Ficam, espalhados pelo Mundo,
pedaços do nosso Portugal!
Abraço,
João Celorico