OS HOMENS DA BOLA E O CIENTISTA JOÃO LOBO ANTUNES
O PROFESSOR DOUTOR João Lobo Antunes é um cientista de referência internacional na área da Neurocirurgia. Como homem, é um cidadão exemplar pela delicadeza e frontalidade com que aborda os problemas para ajudar a ultrapassar as dificuldades, de toda a ordem, que vão surgindo no seio da Nação Portuguesa. Toda a gente de bom senso o estima e admira.
A propósito do futebol e do comportamento da Selecção Portuguesa no campeonato do mundo 2010, na África do Sul, vamos transcrever parte do texto publicado no jornal Diário Económico do dia 07/ de Julho 2010, com a devida vénia:
« Como povo, com uma identidade antropológica, ética ou social bem marcada, só muito raramente fomos um povo ganhador. Quando isso sucedeu foi porque éramos liderados por «ganhadores».
Ganhadores foram ou são, por exemplo, D. Afonso Henriques, o Infante D. Henrique, Nuno Álvares Pereira, José Mourinho, Rosa Mota, João Garcia, Belmiro de Azevedo ou Alexandre Soares dos Santos. Supremo ganhador foi Napoleão no seu apogeu, que tinha mesmo um general (Massena) que era chamado “lénfant chéri de la victoire”.
Na sociedade mediática o triunfo mais celebrado é aquele que transversalmente abrange uma nação, indiferente a profissões, nível económico ou classe social. Hoje em dia, acabadas as guerras, o grande igualizador é sem dúvida o triunfo desportivo.
Inversamente, nada mais abate o ânimo colectivo do que a derrota desportiva.
No caso da tépida campanha sul-africana a desilusão não foi mais profunda porque a expectativa não era alta. Mas o que mais me irritou e creio a muitos portugueses, foi a satisfação dos responsáveis de se terem cumprido os serviços mínimos. De facto, não merecemos mais do que um “suficiente pequeno menos”, que era a nota que marcava o mais miserável dos triunfos.
Ao contrário de alguns, não culpo minimamente os jogadores, pois não detectei qualquer reticência na sua entrega ao jogo, e juntamente com o meu sofrido clube – Sporting é claro! – continuo a ser um indefectível “ronaldiano”. Evidente que em questão de liderança, uma certa competência técnica ou um discurso escorreito não fazem de ninguém um ganhador. Este é um instinto profundo, quase visceral, que paradoxalmente obriga a arriscar a … perder. É evidente para mim que o Professor Queiroz, que respeito, não é um ganhador e com ele nunca passaremos disto. Mas nem ele, nem os responsáveis federativos parecem querer reconhecê-lo, sabe-se lá porque razões, assumindo-se como donos do "clube Portugal”. Em França, Itália, ou Brasil, os responsáveis perceberam e agiram até porque, goste-se ou não, o que estava em causa transcendia o futebol, coisa que aliás irrita os bem pensantes. Por mim, "passo bem sem um perdedor". Mesmo ao berlinde.»
Assim escreveu um dos mais ilustres portugueses contemporâneos.
Agora, pergunto eu, um humilde transmontano nascido entre urzes e carqeijas:
Será admissível que num país de pelintras, como o nosso, ganhe mais dinheiro num mês o referido treinador do que o Presidente da República num ano?...
Por isso é que aumentam os miseráveis da economia e da ética. Temos de apoiar os ganhadores e pôr de lado os que o Professor João Lobo Antunes classifica com “um suficiente pequeno menos”.
Artur Monteiro do Couto