Quando vim para Lisboa, reunia semanalmente com um grupo de jovens equilibrados, sensatos e preocupados com a defesa dos “direitos dos trabalhadores”.
- Eu, que tinha acabado de chegar do mundo rural, aprendi muita sociologia prática com eles. Alguns chegaram a fazer parte de Organizações nacionais e internacionais prestigiadas no mundo do trabalho.
No rés-do-chão de um prédio situado na Rua José Falcão levantou-se o problema de como ajudar colegas de trabalho que chegavam a empenhar utensílios da casa para comprarem os bilhetes que lhes davam acesso a ver determinados jogos de futebol nos respectivos campos dos seus clubes, prejudicando os haveres e a harmonia familiar. Esta, e outras que fui ouvindo, perturbaram-nos bastante, a nós, preocupados em construir uma sociedade mais justa e feliz.
Passaram-se dezenas de anos, e agora interrogo-me a mim mesmo:
- Como é possível alguns clubes paguem contratos de milhões de euros e vencimentos escandalosos para muita gente a viver, praticamente, na miséria?
- Como é possível que outros clubes se endividem para contratar jogadores estrangeiros e portugueses por preços elevadíssimos, a quem posteriormente não podem pagar, nem satisfazer os compromissos com os Bancos nem com a Segurança Social?
- Michel Platini, presidente da UEFA, escandalizado, comentou o elevado número de jogadores estrangeiros (18) entre os 22 necessários aos dois clubes que participaram no jogo final da Taça UEFA - 2011, na Irlanda. E acrescentou: não seria mais humano e patriota utilizarem tantos e bons jogadores portugueses no desemprego?...
Muitos associados, fanáticos com a ânsia de ganhar, também não ajudam nada os clubes, quando insultam jogadores e dirigentes, agridem adversários e obrigam o Estado, que somos todos nós, a pagar serviços normais e especiais a centenas ou milhares de polícias, alguns deles do Corpo de Intervenção por causa de alguns energúmenos que têm um comportamento de loucos a mandar feridos inocentes para os hospitais.
Só no Porto, na época 2010/2011,o policiamento custou1,2 milhões de euros, custeados pelos bolsos de todos nós.
E os malucos, por serem considerados inimputáveis, não são punidos e quase em todos os jogos, voltam a fazer o mesmo; sobretudo nos jogos Benfica-Porto; Porto-Benfica, com o Sporting e outros.
A Dr.ª Maria José Morgado, Procuradora-Geral Adjunta levanta a sua voz, sugere medidas para acabar com a impunidade de adeptos violentos, como proibir as claques que servem poderes obscuros, mas ainda não vi alguns profissionais das contestações contra os Governos a levantarem este problema no Rossio em Lisboa ou na Avenida dos Aliados, no Porto.
E há mais problemas menos propalados e perigosos.
Alguns dos clubes mais pobres, com associados pobres e Directores honestos, sujeitam-se a dar cabo do coração cada jogo que passa e os resultados a serem negativos, às vezes, por causas muito duvidosas.
E, como se isso não bastasse, até em meios «onde não há uma croa pra mandar tocar um cego»`, (que desculpem os cegos utilizar este dito popular), ainda há quem apareça a empenhar o diminuto património que possui, para se responsabilizar e dirigir o “FUTSAL”. E não estou a falar sem fundamentação… E depois as famílias é que pagam.
- Futebol? Sim, para quem pode e o respeita com todas as normas da justiça e da decência.
- Futsal ? Sim, para quem pode.
Aos Pelintras, recomenda-se-lhes que tenham juízo e que pensem duas vezes antes de criarem problemas para os próprios, para os jogadores (a quem deixam de pagar) e associados.
E tudo isto, sem falar nos 10 (dez) estádios e na dívida portuguesa que todos nós vamos continuar pagar; directa ou indirectamente. Alguns Presidentes das Câmaras já pensam em vendê-los ou destruí-los, pelos custos que as autarquias têm de suportar,,, e não constam das exigências específicas da «TOIKA».
Isto é que vai uma crise…e aonde iremos parar? Pedir mais apoios aos investidores estrangeiros? Ou a uma «TOIKA» especial? Penso que será uma solução vergonhosa…
Artur Monteiro do Couto