DAQUI NASCEU O FOLAR
Nos meses frios de Novembro e Dezembro começam os encontros gastronómicos
na devoragem apetitosa de tudo quanto pertence ao “Porco” que, depois de bem nutrido e lavado, como nunca lhe fizeram em vida, vai ter honras e elogios mais repetidos do que sucede com políticos que se dirigem àquelas paragens em época de campanhas eleitorais.
As homenagens aos suínos começam lá para as bandas de Montalegre e vão-se alargando a Boticas, Chaves, Valpaços, Mirandela, Vinhais e por todas as regiões transfonteiriças. Saem à rua as Bandas Musicais, os concertinistas e cantores ao desafio, os ranchos folclóricos, os gaiteiros portugueses, espanhóis e de outras paragens, animando os visitantes enquanto estes saboreiam os presuntos, salpicões, orelheiras, alheiras, chouriças só de carne ou com farinha, (farinheiras) e - ao morto, nem os pés lhe deixam em paz. Comem-lhe tudo, dos pés à cabeça. E os que viveram ao seu lado e os trataram com todo o carinho, em vez de chorarem pelos amigos, sorriem e sentem-se orgulhosos por comprarem, pagarem e comerem tudo; ou nas festas do fumeiro em terras transmontanas ou mais tarde por esse mundo de Cristo além. O apetite de chorar é afastado pelos milhares de €uros que vão circular na economia doméstica, bastante carenciada em tempos malvados para a gente do campo.
Aproxima-se a Primavera e com ela a Festa da Páscoa lembrando as agruras e alegrias da morte e Ressurreição de Jesus Cristo.
Entra em acção o ciclo da economia galinácea. Os ovos, fruto do amor infiel do galo cantador e da amante ocasional, galinha, vão ser os reis da festa gastronómica da “Passagem = Páscoa” dando origem aos excelentes folares de CHAVES, mais célebres os do João Padeiro, e a milhões deles que se foram e vão espalhando pelo mundo. Eles têm o condão de transformar a farinha-triga, saída dos seus campos ou do Continente do Senhor Belmiro, em ouro comestível, com carne do amigo de quem acabámos de falar ou sem carne. O azeite, biológico ou não, com mais ou menos acidez, dá-lhe brilho, é uma espécie de passagem pelas mãos dos artistas polidores, como vimos há dias, na Televisão, a fazer às jóias. É que eles também passam pelo calor do forno, seja ele aquecido a lenha, como nos fornos comunitários do Barroso ou pelos que vieram trazidos pelas modernices.
E as galinhas poedeiras, … também vêm pôr euros nos bolsos das patroas para comprarem as televisões digitais necessárias para ver as telenovelas e aprenderem a falar português e espanhol .
- Ora vejam só, e quem diria - que os Porcos e os Galináceos têm um papel tão importante na economia doméstica do país dos pobres.
BOAS-FESTAS e FELICIDADES, para quem produz e quem come.
Artur Monteiro do Couto