OS INCENDIÁRIOS CONFESSAM-SE
Era um fim de tarde. Na minha frente surgiu uma imagem do inferno com que se ameaçavam os pecadores sociais e falsamente divinizados. Bem próximo ia ouvindo os desabafos dos aldeãos, meus vizinhos de nascimento e de convívio. Diziam uns: "... haviam de apanhar os vagabundos que chegam fogo às serras e metê-los no meio do fogo; desabafavam outros:" só não descobrem alguns porque não querem..." - Os próprios, algum tempo depois, dizem como fizeram essas maldades em horas de raiva, de vingança ou daquela malvadez lhes correr no sangue e estar depositada no cérebro. E pouco a pouco, vai-se aplicando o aforismo: " zangam-se as comadres, descobrem-se as verdades"... E a história começa a desenrolar-se:
«Um velho em cima do tractor; um de meio idade, na motorizada, e um camponês de enxada às costas, metem o isqueiro no bolso e lá vão eles estrada fora, caminhos rurais ou veredas e silvedos tornarem mais pobres as pobres terras junto das quais habitam. E as provas estão à mostra de norte a sul de Portugal.
- Alguém, mais conhecedor do assunto, foi adiantando algumas sugestões:
- Se os Guardas fossem mandatados para pedir os documentos de condução e fotografassem quem entra nas serras ou viaja pelos campos e se os revistassem se andam com isqueiros, velas, gasolina ou outros combustíveis, esses inconscientes sentir-se-iam vigiados, com mais possibilidades de serem descobertos e punidos. E olhem que dormitando e sonhando, recordando o que fui ouvindo e vivendo nas férias, embora não possua a identidade dos interlocutores, eu dou-lhes razão. Esta vigilância é importante, nem que os motoristas sejam velhos e carecas e pareçam as pessoas mais inocentes do mundo
Quem tiver ouvidos para ouvir, ouça; e quem tiver olhos para ver, veja.
Artur Monteiro do Couto